Maio 07 2012

O "obscurantismo programado" é um conceito cunhado por Alberto Melo, teórico da educação de adultos, que visa explicar o resultado de políticas educativas discriminatórias e excludentes que foram largamente difundidas (e implementadas) durante o Estado Novo. Segundo este teórico, os representantes do Estado Novo desenvolveram políticas educativas que faziam a apologia da ignorância e das virtudes intrínsecas do povo português. Em texto publicado na Revista "O Direito de Aprender", Alberto Melo traz-nos palavras do deputado Pinto da Mota, que afirmava em 1938: “Deformar o espírito de quem aprende é a maior das desgraças; é melhor deixá-los analfabetos do que com o espírito deformado... Se nós queremos entregar esse milhão e seiscentos mil analfabetos nas mãos de qualquer professor, esses homens podem vir a transformar-se em inimigos da sociedade”. Ler, escrever e contar foram, assim, durante décadas, consideradas atividades menores (e até perigosas) para as classes populares.

Ainda hoje ouvimos dizer: "Estudar para quê? Eles que vão mas é trabalhar!" A escola e o trabalho intelectual, ainda são vistos como sinónimos de não trabalho. O papel da biblioteca e dos bibliotecários é assim fundamental para erradicar a ideia de que escola é um lugar dispensável para as classes populares. Como? Ajudando a difundir a leitura, a aprendizagem e o conhecimento como fatores fundamentais para o desenvolvimento cultural, económico, político e social das comunidades. Daí que seja preciso difundir a ideia de uma escola em que trabalhar para obter resultados positivos é uma tarefa que congrega vontades e ações de todos os parceiros da comunidade educativa. Sem perdermos de vista um princípio ético fundamental: uma escola onde se trabalha para se atingirem resultados, jamais poderá ser uma escola discriminatória e excludente.

 

 

Referências bibliográficas:
Melo, Alberto (2008). "A ausência de uma política de educação de adultos é uma forma de controle social". In Revista O Direito de Aprender, sd.

Cunha, Murilo (2012). "Como resolver o x do problema da leitura?" In Blogue "A Informação".

publicado por apvnpoiares às 08:00

Julho 01 2011

"Chegada a noite, volto a casa e entro no meu escritório; e, na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de lama e de lodo, e visto trajes reais e solenes; e, vestido assim decentemente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, recebido amavelmente por eles, me alimento da comida que é só minha, e para a qual nasci; onde eu não me envergonho de falar com eles e de perguntar-lhes as razões das suas acções. E eles com a sua bondade respondem-me; e, durante quatro horas, não sinto tédio nenhum, esqueço-me de toda a ansiedade, não temo a pobreza, nem a morte me assusta: transfiro para eles todo o meu ser."

Nicolo Maquiavel, "A biblioteca" in Carta a Francesco Vettori

publicado por apvnpoiares às 14:13

Publicitam-se as actividades e os projectos da APais. Publicitam-se as actividades educacionais público-privadas que envolvam crianças, jovens e pais.
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