O "obscurantismo programado" é um conceito cunhado por Alberto Melo, teórico da educação de adultos, que visa explicar o resultado de políticas educativas discriminatórias e excludentes que foram largamente difundidas (e implementadas) durante o Estado Novo. Segundo este teórico, os representantes do Estado Novo desenvolveram políticas educativas que faziam a apologia da ignorância e das virtudes intrínsecas do povo português. Em texto publicado na Revista "O Direito de Aprender", Alberto Melo traz-nos palavras do deputado Pinto da Mota, que afirmava em 1938: “Deformar o espírito de quem aprende é a maior das desgraças; é melhor deixá-los analfabetos do que com o espírito deformado... Se nós queremos entregar esse milhão e seiscentos mil analfabetos nas mãos de qualquer professor, esses homens podem vir a transformar-se em inimigos da sociedade”. Ler, escrever e contar foram, assim, durante décadas, consideradas atividades menores (e até perigosas) para as classes populares.
Ainda hoje ouvimos dizer: "Estudar para quê? Eles que vão mas é trabalhar!" A escola e o trabalho intelectual, ainda são vistos como sinónimos de não trabalho. O papel da biblioteca e dos bibliotecários é assim fundamental para erradicar a ideia de que escola é um lugar dispensável para as classes populares. Como? Ajudando a difundir a leitura, a aprendizagem e o conhecimento como fatores fundamentais para o desenvolvimento cultural, económico, político e social das comunidades. Daí que seja preciso difundir a ideia de uma escola em que trabalhar para obter resultados positivos é uma tarefa que congrega vontades e ações de todos os parceiros da comunidade educativa. Sem perdermos de vista um princípio ético fundamental: uma escola onde se trabalha para se atingirem resultados, jamais poderá ser uma escola discriminatória e excludente.
Cunha, Murilo (2012). "Como resolver o x do problema da leitura?" In Blogue "A Informação".