Um excelente texto de Geraldo Barroso que problematiza o conceito "crise da/na escola". Ao que parece a crise da/na escola não é um fenómeno assim tão recente. Segundo o autor a actual crise da/na escola nada mais é afinal do que uma crise social, política e económica, factores que em conjunto contribuem drasticamente para os paradoxos em que as sociedades ocidentais (e não só) estão mergulhadas. A questão é: estaremos (todos nós) empenhados em encontrar uma saída?
"Enfim, a crise da escola pública — tanto em Portugal como no Brasil, bem como na maior parte do mundo capitalista ocidental — tem um caráter estrutural e está ligada a duas transformações simultâneas e sincrônicas: a massificação da instituição escolar — resultado de todo um conjunto de expectativas (reais ou ilusórias) quanto aos poderes transformadores da educação escolar — que se dá a par de transformações econômicas, políticas e culturais que podem ser sintetizadas sob a denominação genérica de 'globalização'. Essas últimas transformações acabam por abalar ainda mais uma instituição social que já vivia uma crise de sentido produto dos impasses que a sua massificação provocava. Assim, a crise de sentido que atinge os SPE não se origina ou é produzida unicamente no interior da instituição escolar e não pode ser destacada da crise do modelo civilizatório moderno que amparou a sua universalização. (...)
Este texto não pretende purgar as culpas pelo fato das utopias da modernidade não terem dado certo. Nem pretende (ah!, se ele pudesse, que poder teria!) prescrever as saídas. Mas não tem medo de enfrentar "a derrocada das velhas certezas em torno da educação" (Enguita, 2004). Sem fender, a princípio, nem as teses da desescolarização da sociedade nem a sacralização da instituição escolar. Sem dogmas. E afirma que as formas de se pensar a escola — nos marcos ou nos limites do contexto histórico no qual ela se afirmou como instituição social estruturante das sociedades modernas, com e a partir da construção dos Estados-Nação — estão sendo tragadas pela crise das sociedades paridas pela modernidade. Por fim, pensamos que, vista sob a ótica crítica dos estudos históricos, as coisas não parecem ser tão difíceis assim, pois, afinal, a escola é uma instituição bastante antiga e não foi sempre tal como a conhecemos hoje. Sendo assim, não há porque duvidar que ela possa sobreviver assumindo outras formas e outras finalidades, de acordo com outros projetos sociais. Mais difícil, como sempre, é imaginar a que tipo de sociedade ela deverá servir."